quinta-feira, 25 de junho de 2009

Estraguei tudo

19062009

O que é o ERRO quando falamos sobre a efemeridade de um fenômeno como teatro que lida com a construção de uma realidade pautada no que acontece no instante presente. Qual a receita alquímica que os deuses se fazem valer para transformar a merda em ouro. Por que é tão divertido ver um palhaço se ferrar metendo-se em uma série de quiprocós armados por sua propria estupidez.

Tempos atrás assisti um dvd do Lume onde um dos atores falava sobre essa questão sob uma perspectiva bastante rigorosa: "O erro não pode ser aceitável num trabalho que se propõe a ser levado para o público. É por isso que a gente ensaia tanto". Essa perspectia encontrou aconchego no meu espírito; o desejo de uma arte que tenha como pressusposto a excelência técnica e artística acalenta meus sonhos como artista.

Mas e quando o inesperado acontece. E quando o inevitavel desaba sobre nossas cabeças. quando os deuserês do teatro resolvem brincar com a nossa cara e nos pregar peças.

A atriz que está em cena tem uma crise de tosse que a vinha aconpanhando desde o dia anterior. Da coxia eu estranho quando a companheira ao não conseguir controlar a tosse assume verbalmente a questão. Tenho resistência a "cacos" de qualquer natureza neste espetáculo (O Pássaro Azul): "Tilti, eu tô com tosse", improvisa. "Tosse Mitil{} Cof, cof!. Eu também. Cof, cof.

Qual não foi minha surpresa quando uma platéia de cerca de 150 crianças começam todas a tossir de mentirina. Abre-se uma fenda no tempo-espaço, uma nova cena, jamais imagnada por Maëterlink ou Toscano é escrita ao vivo com os espectadores. Comunhão pura.

Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! v Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof, cof! Cof!

A La Magia* acontece quando menos se espera.

Segundos depois me vi metido numa situação tão absurda de se imaginar: um fiozinho rídiculo da minha calça fica enganchado na gaiola que está numa das extremidades da lona e não consigo me livrar a tempo de preservar um dos princípios do nosso jogo: a simetria. Os colegas de cena não percebem meu apuro, estão de costas pra mim. Prossigo. Tento me comunicar com minha parceira em brechas da nossa consrução onde cochichos no ouvido são permitidos. "Estou preso", digo. Mas nãoe entende a cara colega e me puxa para o centro da cena. O jogo simétrico precisava ser reconstituído, a cena continuava. atrás de mim, uma gaiola é arrastada. Distrurbio, barulho, confusão.

"Eu estraguei tudo", digo sinceramente para a platéia quase chorando de verdade. O erro é rapidamente corrigid, quase escondido, não é encarado como cena. Perdemos o presente do inesperado acaso. De bom, só consigo tirar, no momento, uma inesperada fragilidade que surge em Tiltil.

Mas agora, três dias depois, na tranqüilidade de umaa segunda-feira de um inverno ensolarado eu penso: quais são os "erros" evitáveis e os inevitáveis desse trabalho. Que tip de coisa não posso eu admitir para que continue subindo de escala rum a um refinamento do meu trabalho.

Assumir a fragilidade diante daquilo que realmente não está no nosso controle pode ser a nota que falatava paa dar graça na nossa composição. Ter calma e deixar que todos em cena tenham a possibildade de lidar com a coisa cri-a-ti-va-men-te. Resolver o problema não para esconder o erro. Abrir espaço na tranquilidade da respiração para aprender sobre como se faz ouro na merda. Ser um pouco mais estúpido.

O erro só se faz erro na maneira como idamos com aquilo que é inevitável e inesperdo no teatro. Com as outras coisas, a gente pode voltar pra sala de ensaio e treinar mais até que a musculatura incorpore os princípios e isso nem seja mais uma questão.

Por Kenan Bernardes
sobre nós em Diadema City

terça-feira, 16 de junho de 2009

Do que a gente aprendeu




Que nosso aquecimento pode ser uma coisa muito útil para se fazer antes de um trabalho espiritual, mas não antes dessa peça. Que quando a gente pensa que está “gritando como histéricos” em cena, o público está ouvindo atores falando bem. Que 500 crianças “incomodam, incomodam, incomodam....” muito mais. Que é preciso escancarar a relação com o público. Que a Grande Mãe da Terra pode ser uma fofa. Que o Senhor do Tempo ri. Que pode haver leveza mesmo ao se falar tanto de morte. Que a gente não sabe nada sobre crianças – e tudo bem. Vamos aprender. Que não se deve concentrar energia em espectador que não está com você. Que´ssa peça tem muito texto - pelamordedeus! Que as marcas podem ser quebradas desde que as regras do jogo estejam vivas. Que o Almanaque era muuuito legal. Que a peça tem um ritmo que é dela. Que esse ritmo pode ser alterado segundo a sensibilidade coletiva. Que a sensibilidade coletiva tem quer ser isso mesmo: coletiva. Que quando se deseja crianças enfurecidas, enlouquecidas na sua platéia, o Universo atende. Que as coisas são a posteriori. Que não é na força que se consegue reestabelecer-se no caos. Que um dia árido de espetáculo pode suscitar uma conversa bastante agradável depois. Que a gente tá crescendo – e isso é lindo!



Por Kenan Bernardes
completamente exaurido depois da experiência no SESI de São Bernardo